O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL PERMANENTE
Se
o professor acredita que sua tarefa é simplesmente transmitir os conteúdos ou,
como se diz, “dar” a matéria, resta muito pouco à sua criação: vai se utilizar
apenas do livro didático e dará aulas expositivas nas quais se esforçará para
apresentar, o mais claramente possível, o conteúdo que quer que seus alunos
aprendam. No entanto, quando se trabalha com um modelo de aprendizagem
construtivista e um modelo de ensino pela resolução de problemas, as exigências
são outras. Como vimos nos capítulos anteriores, a atividade de ensino do
professor vai ter de dialogar com a atividade de aprendizagem do aluno. Para
isso ele vai precisar considerar muitas variáveis e tomar outras tantas
decisões, o que equivale a assumir um alto grau de autonomia. Para dar conta
dessa nova demanda é preciso condições de desenvolvimento profissional e de
qualificado diferentes das que vêm sendo oferecidas, no geral, aos professores.
A
visão que se tem do professor hoje é a de alguém que desenvolve uma prática complexa
para a qual contribuem muitos conhecimentos de diferentes naturezas. Ele é mais
do que uma correia de transmissão, alguém que simplesmente serviria de ligação
entre o saber constituído e os alunos. Seu papel agora tende a ser mais
exigente: precisa se tornar capaz de criar ou adaptar boas situações de
aprendizagem, adequadas a seus alunos reais, cujos percursos de aprendizagem
ele precisa saber reconhecer.
A
discussão que acontece atualmente em muitos países sobre o que deve ser a
formação de professores inclui a questão da formação permanente, que envolve um
trabalho de reflexão e estudo por parte do professor – como se exige hoje,
aliás, da maior parte das outras profissões.
O
desejável e necessário é que todos, professores e equipe técnica, se tornem
cada vez mais responsáveis, coletivamente, pelo resultado do trabalho de toda a
escola. O que exige, em geral, a revisão da estrutura organizacional da
instituição, um esforço de atualização permanente e de acesso ao conhecimento
mais recente que a ciência produz, para iluminar seu trabalho, além de um tipo
de prática que está se tornando menos discursiva e mais consistente: a reflexão
sobre a prática. A expressão reflexão sobre a prática nos remete diretamente ao
mestre Paulo Freire. Foi ele quem, no que se refere à educação, pôs essa idéia em circulação. Sob
esse nome geral, diferentes práticas foram desenvolvidas desde meados dos anos
60. Práticas que vão desde a troca de idéias e sugestões de atividades entre
professores à produção de relatos reflexivos sobre a prática realizada em
classe, até o que temos chamado de tematização da prática.
Para
ser tematizada, a prática do professor precisa estar documentada. Essa
documentação, que deve ser feita por atividade, pode ser realizada de
diferentes formas: as anotações de alguém que entra na classe como observador,
um texto produzido pelo professor que inclua seu planejamento, um relato do
desenvolvimento da atividade e uma pequena avaliação. A mais poderosa de todas
as formas de documentação é, no entanto, a gravação da atividade em vídeo. A esta gravação
deve-se anexar o relato/reflexão escrito pelo professor, sempre que possível. A
diferença entre o documento produzido por um observador em classe e a gravação
em vídeo da atividade é que esta permite a conjugação dos múltiplos olhares do
grupo de professores e, através de discussão, a construção de um olhar comum,
coletivo, sobre a atividade que se está analisando. O uso adequado desse
recurso técnico propicia a construção de uma prática de analisar as situações
que acontecem na sala de aula de tal maneira que nos permite compreender as
idéias e as hipóteses que guiam os atos do professor, ainda que ele não tenha
consciência delas. O trabalho de tematizar a prática é exatamente fazer aflorar
essa consciência, ultrapassando a dicotomia certo ou errado que costuma marcar
a análise da prática docente.
Texto retirado da Internet: www.professorefetivo.com.br
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