É PRECISO CONSIDERAR O CONHECIMENTO PRÉVIO
DO APRENDIZ E AS CONTRADIÇÕES QUE ELE ENFRENTA NO PROCESSO
Cada
concepção de aprendizagem produz sua própria linha de investigações. É ela que
determina as pesquisas que se fazem e o ponto de vista do cientista que vai se
preocupar com as questões estudadas.
Essa tarefa é
um desafio que só pode ser superado com conhecimento científico específico. Por
exemplo: a partir da revelação feita pela psicogênese da língua escrita – de
que, enquanto se alfabetizam, as crianças passam por um momento em que
representam com apenas uma letra os fragmentos sonoros que conseguem isolar na
fala-, tornou-se possível considerar MLC ou UEI (para escrever moleque) como a
expressão de um conhecimento sobre a escrita que precede a compreensão do
funcionamento do sistema alfabético.
No
momento em que uma criança escreve dessa
maneira, ela já sabe que a escrita representa a pauta sonora, que para escrever
usamos letras, que não é qualquer letra que serve para escrever, mas ainda não
sabe que, quando emite um som do tipo um, a letra u não é suficiente para
representá-lo. Não sabe que vai precisar diferenciar o um do bu e do tu, e que
se usar o u para escrever tudo isso, na hora de ler não conseguirá recuperar o
que escreveu. Porque uma coisa é ela pensar um e escrever u, outra é depois
olhar o u e conseguir decifrar o que escreveu. Aliás, é muito comum acontecer
isso. Crianças com esse tipo de hipótese sobre a escrita muitas vezes escrevem,
por exemplo, GATO, PATO e RATO da mesma forma: AO. No entanto, para elas mesmas
isso é inaceitável pois ima das primeiras hipóteses que as crianças constroem sobre
o sistema de escrita é a que diz que nomes diferentes não devem ser escritos
com as mesmas letras. Nesse descompasso, está o grande território das
contradições que as crianças têm de enfrentar para superar essa hipótese, que
não dá conta da escrita no português (daria se fosse japonês, hebraico, árabe,
que são línguas silábicas e não alfabéticas, como a nossa).
Contradições
como essa são a própria condição para a aprendizagem, pois colocam o aprendiz
em situações de conflito cognitivo: um conflito que vai gerar necessidade de
superação das hipóteses inadequadas através da construção de novas teorias
explicativas. Nesses momentos a atuação do professor é fundamental, pois a
conquista de novos patamares de compreensão pelo aluno é algo que depende também
das propostas didáticas e da intervenção que ele fizer. O registro de uma
professora, preocupada em identificar o conhecimento que existe por trás das
hipóteses de seus alunos e em organizar boas situações de aprendizagem, revela
como a atenção ao que lês dizem e pensam é condição para perceber os desafios
de uma intervenção conseqüente.
Texto retirado da Internet: www.professorefetivo.com.br
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