É POSSÍVEL ENXERGAR O QUE O ALUNO JÁ SABE A PARTIR DO QUE ELE PRODUZ E
PENSAR NO QUE FAZER PARA QUE APRENDA MAIS
O salto importante que se deu no
conhecimento produzido sobre as questões do ensino e da aprendizagem já permite
que o professor olhe para aquilo que o aluno produziu, enxergue aí o que ele já
sabe e identifique que tipo de informação é necessária para que seu
conhecimento avance. Isso se tornou possível porque, nas últimas décadas,
muitas pesquisas têm ajudado a consolidar uma concepção que considera o
processo de aprendizagem como resultado da ação do aprendiz. Nessa abordagem, a
função do professor é criar as condições para que o aluno possa exercer a sua
ação de aprender participando de situações que favoreçam isso. As ações, nesse
caso, não implicam necessariamente atividade física aparente, mas atividade
mental, exercício intelectual.
Se olho um
menino que escreve muleci, não posso pensar que ele não aprendeu o que eu
ensinei. Se o que eu pretendia era que aprendesse sobre o sistema de escrita,
devo entender que para escrever muleci ele usou inúmeros conhecimentos que já
tem sobre esse sistema em
português. Revelou saber, por exemplo, que escrevemos com
letras, que essas letras representam sons, que não é qualquer letra que
representa qualquer som... E que, provavelmente pela sua experiência de
empregar o “c” para escrever casa e cavalo, considerou que a mesma letra
serviria para o que de moleque – o que tem muita lógica, embora
não coincida com a escrita convencional da palavra. Na verdade, o que ele não
sabe ainda muito bem é a ortografia. Dentre as possibilidades de representação
que existem na escrita alfabética em português, ele não sabe exatamente quais
são as aceitas pela convenção e quais não, mas suas estratégias foram, sem
dúvida, bastante inteligentes.
A questão é
que, no momento em que o professor entende que o aprendiz sempre sabe alguma
coisa e pode usar esse conhecimento para seguir aprendendo, ele se dá conta de
que a pura intuição não é mais suficiente para guiar seu trabalho. Como
aconteceu comigo no momento em que reconheci muleci como uma escrita incorreta,
mas que exprimia um saber. Em 1962, se os meus meninos, para escrever moleque,
grafassem UEI, MEI, ou MLC, ou outras possibilidades dessa mesma natureza (o
provavelmente alguns fizeram sem que eu sequer notasse), mesmo com muito boa
vontade e sensibilidade eu jamais poderia reconhecer essas escritas como
expressão de um tipo de saber. Para interpretar adequadamente o que está
acontecendo com a aprendizagem de seu aluno, o professor precisa de um
conhecimento que é produzido no território da ciência. Isso porque, na verdade,
a gente consegue ver apenas o que tem instrumentos para compreender.
Texto retirado da Internet: www.professorefetivo.com.br
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