UM NOVO OLHAR SOBRE A APRENDIZAGEM
A METODOLOGIA EMBUTIDA NAS CARTILHAS DE ALFABETIZAÇÃO CONTRIBUI PARA O
FRACASSO NA ESCOLA
As
pesquisas realizadas nos anos 1970 por Emilia Ferreiro, Ana Teberosky e
colaboradoras sobre o que pensam as crianças a respeito do sistema alfabético
da escrita – a chamada psicogênese da língua escrita – evidenciaram os
problemas que a metodologia embutida nas cartilhas cria para muitas crianças.
Segundo mostrou a psicogênese da língua escrita, em uma sociedade letrada as
crianças constroem conhecimentos sobre a escrita desde muito cedo, a partir do
que não compreendem quando ainda não se alfabetizaram, as crianças elaboram
hipóteses muito interessantes sobre o funcionamento da escrita.
Esses
estudos permitiram que compreendêssemos que a metodologia das cartilhas pode
fazer sentido para crianças convencidas de que para escrever bastaria uma
letra, que para escrever macaco seriam necessárias três letras:MCO ou ACO ou
MAC...Já para aquelas que ainda cultivam idéias muito mais simples a respeito
da escrita, sem sequer estabelecer relação entre o falado e o escrito, o
esforço de demonstrar que uma sílaba geralmente se escreve com mais de uma
letra não faz nenhum sentido. E são exatamente essas as crianças que não
aprendem com as cartilhas e ficam repetindo a 1ª série, chegando muitas vezes a
desistir da escola.
Como
as crianças constroem hipóteses sobre a escrita e seus usos a partir da
participação em situações nas quais os textos têm uma função social de fato,
freqüentemente as mais pobres são as que têm as hipóteses mais simples, pois
vivem poucas situações desse tipo. Para elas a oportunidade de pensar e
construir idéias sobre a escrita é menor do que para as que vivem em famílias
típicas de classe média ou alta, nas quais as crianças ouvem freqüentemente a
leitura de bons textos, ganham livros e gibis, observam os adultos manusearem
jornais para buscar informações, receberem correspondência, fazerem
anotações,etc. è comum, por exemplo, crianças de famílias que fazem uso
cotidiano da escrita pedirem desde bem pequeninas – e por razões muitas vezes
puramente afetivas – para que alguém escreva seu nome e dos outros parentes por
escrito. São situações que lhe permitem perceber que têm um nome e que esse
nome se escreve, que as outras pessoas da família têm nomes e que esses nomes
também se escrevem. Além disso costumam ter contato significativo com marcas de
produtos, títulos de histórias, escritos de placas...Assim, essas crianças,
antes mesmo de entrarem na escola, passam a ter um repertório de palavras conhecidas, isto é, sabem o que elas querem
dizer e conhecem a forma convencional de sua escrita. Esse repertório de
palavras dá sustentação à sua reflexão, ajuda-as a pensar sobre características
do sistema de escrita e representa uma enorme vantagem quando elas são
oficialmente iniciadas na alfabetização. Isso não significa que as crianças pobres
não tenham acesso à escrita ou não possam refletir sobre seu funcionamento fora
da escola. No entanto, como essas práticas habitualmente não fazem parte do
cotidiano do seu grupo social de origem, costumam iniciar a escolarização em
condições muito menos vantajosas do que aquelas que participam de práticas
sociais letradas desde pequenas.
Mas,
vindas de famílias pobres ou não, hoje – como no passado – é muito comum que,
mesmo tendo o professor cuidadosamente ensinado a escrever moleque, elas
escrevam muleci. O que o professor vai fazer a partir desse momento – a ação
pedagógica que vai desencadear – dependerá, fundamentalmente, de sua concepção
de aprendizagem. Porque, tendo consciência disso ou não, todo ensino se apóia
em uma concepção de aprendizagem. Se o professor imagina o conhecimento como
algo que, pela ação do ensino, é oferecido às crianças para que o absorvam tal
como ele está dado, obviamente o menino que escreveu muleci não terá aprendido
o que ele ensinou. A idéia de que é possível ensinar uma coisa e o aluno
aprender outra é completamente estranha a quem concebe o conhecimento dessa
forma. Mas deixarei essa questão para retomá-la mais adiante.
Texto retirado da Internet: www.professorefetivo.com.br
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