PARA APRENDER, A CRIANÇA PASSA POR UM
PROCESSO QUE NÃO TEM LÓGICA DO CONHECIMENTO FINAL, COMO É VISTO PELOS ADULTOS
Se o
professor quer saber o que alguém que ainda não sabe ler pensa sobre as
questões que estão relacionadas ao ato de ler, precisa criar situações
específicas. E essas situações têm de demandar que as crianças façam coisas
para que ele possa perceber o que pensam através das suas ações . Isso vale
para qualquer área do conhecimento. O que pode pensar uma criança sobre o
número, por exemplo, tanto do ponto de vista quantidades quanto dos aspectos
notacionais, quando ela ainda não é capaz de realizar operações com números?
De um ponto
de vista construtivista é preciso aceitar a idéia de que nenhum conceito – nem
o número, nem a quantidade, nem nada – nasce com o sujeito ou é importado de
fora, mas precisa ser construído. E que para isso o aprendiz passa por um
processo que não tem a lógica do conhecimento construído. Por exemplo: a um
adulto pode parecer absurdo que alguém imagine que uma certa quantidade de
bolinhas, quando espalhadas, contenha mais unidades do que quando juntas. Mas é
isso o que pensam as crianças pequenas – como mostraram as investigações de Piaget.
Essa é uma expressão genuína da lógica infantil: até que tenha construído a
noção de conservação das quantidades, a criança, para estimar quantidades,
pauta-se pela extensão espacial que os objetos ocupam. No entanto, no momento
em que constrói um conhecimento sólido sobre a permanência das quantidade
numéricas, ela abandona a lógica anterior e se torna completamente inconsciente
do tipo de reflexão que fazia algum tempo antes, mesmo que esse tempo seja de
apenas algumas semanas.
È muito
difícil para o professor manter-se dentro de uma visão construtivista se ele
não tiver uma postura intelectual a guiá-lo e lembrar-lhe o tempo todo que o
seu olhar não é igual ao olhar da criança, que ele vê o conhecimento cientifico
disponível, única forma de recuperar o olhar de quem está em processo de
construção.
No caso, por
exemplo, da alfabetização, o modelo geral de aprendizagem no qual se apóia a
psicogênese da língua escrita é de que há um processo de aquisição no qual a
criança vai construindo hipóteses, testando-as, descartando umas e
reconstruindo outras. Mas, durante a alfabetização, aprende-se mais do que a
escrever alfabeticamente. Aprendem-se, pelo uso, as funções sociais da escrita,
as características discursivas dos textos escritos, os gêneros utilizados para
escrever e muitos outros conteúdos.
O modelo de
ensino atualmente relacionado ao construtivismo chama-se aprendizagem pela
resolução de problemas e pressupõe uma intervenção pedagógica da natureza
própria. Quando falamos de aprendizagem pela resolução de problemas não estamos
nos referindo aos clássicos problemas escolares de matemática, e sim à
utilização, como núcleo das situações de aprendizagem, de situações-problemas.
Temos disponível agora um modelo de ensino que, reconhecendo o papel da ação do
aprendiz e a especificidade da aprendizagem de cada conteúdo, propõe que a
didática construa situações tais que o aluno precise pôr em jogo o que ele sabe
no esforço de realizar a tarefa proposta.
Uma
situação-problema se define sempre em relação ao aprendiz. Deve ser uma
situação na qual a solução não vá ser buscada na memória, nem a resposta possa
ser imediata, pois o aluno precisará mobilizar conhecimentos que já tem e
usá-los de tal forma que acabará construindo uma solução não previamente determinada.
Texto retirado da Internet:
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