quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Como despertar o gosto pela leitura

Extraído na íntegra de: http://jottaclub.com/

Durante meus anos de escola (e até de universidade), vi vários professores falando sobre os benefícios da leitura, afirmando que devemos ler livros clássicos e ressaltando suas qualidades.
Muitos deles, no entanto, nunca foram vistos com um livro embaixo do braço.
Essa atitude de mostrar que “eu sou o professor e leio, olhem aqui meu livro” me parece ser uma das mais importantes para estimular os alunos a ler, pelo simples fato de que isso desperta curiosidade. Muitas pessoas leem, e começam a ler depois de ficarem curiosos sobre aquele best seller que viram na revista. Tudo bem, estimular a leitura de best sellers não é exatamente nosso objetivo, mas começar diretamente pelos clássicos será, no mínimo, traumatizante.
Em síntese, creio que o professor deve mostrar amor pela leitura. Não gosto, nem hábito, mas amor. Esse é o tópico imprescindível.

ATITUDES ATIVAS

Chamo de atitudes ativas aquelas efetivamente desempenhadas pelo professor de forma a criar uma interação entre os alunos e a leitura. Acredito que o resultado das atitudes ativas é altamente influenciado pelas atitudes passivas, daí a importância dessas últimas. A seguir, falo de algumas atitudes ativas que eu busco praticar com meus alunos.

Apresentar textos de interesse dos alunos e destacar a utilidade da literatura

Óbvio. Os alunos não terão interesse em textos que não tenham nada a ver com suas realidades ou que não despertem algum tipo de sentimento. Ninguém, mesmo um apaixonado por leitura, lê por ler. É preciso um motivo. É preciso gostar. É preciso ter necessidade.
Nós, como professores, temos condições de perceber quais os interesses de nossos alunos. Essa é uma tarefa relativamente fácil. A partir disso, podemos selecionar textos de acordo com seus gostos e apresentá-los, lê-los, interpretá-los, mostrar que um texto (ou um livro) é, de certa forma, um amigo com o qual podemos conversar e trocar ideias. Então caímos num ponto importante: precisamos mostrar a utilidade da leitura. Sempre observei que a maioria dos alunos não vê utilidade naquilo que lê. Isso não é culpa deles. É culpa da sociedade, desse mundo tecnicista e de puro senso prático e imediato (recomendo a leitura do texto no blog de Luis Calil, no qual ele analisa alguns comentários de usuários do orkut, na comunidade “Eu odeio literatura”). Quando se começa a ler ficção, é difícil perceber como ela é útil em nossas vidas. Por isso, quem sabe alguns livros de não-ficção possam ser uma boa escolha nesse sentido de criar um senso de necessidade e utilidade.

Organizar atividades a partir da leitura e fazer relações internas e externas

Em abril de 2008, publiquei um texto no extinto blog Bravus.net, no qual faço sugestões de atividades para trabalhar com o clássico de Miguel de Cervantes, Dom Quixote.
Muitas das atividades sugeridas podem ser adaptadas e utilizadas para quaisquer livros, então transcrevo-as abaixo:
1. Fazer a leitura em voz alta de alguns capítulos da obra: alunos e professor intercalando a leitura e criando curiosidade quanto ao resto da história. É muito mais divertido que uma leitura solitária;
2. Jogo de incorporação à leitura: escolhemos um capítulo ou trecho e fazemos algumas marcas no texto (a cada duas ou três linhas). Um aluno inicia a leitura em voz alta e, seguindo uma ordem estabelecida antecipadamente, um novo aluno começa a ler a cada marca do texto, até que todos estejam lendo juntos;
3. Feira de leitura: o grupo encarregado da atividade anunciará — como faziam os leiloeiros antigamente — que em determinada hora e lugar será feita a leitura de certo trecho do livro. Também farão cartazes anunciando o grande acontecimento;
4. Leitura dramatizada: um grupo prepara a narração de algum capítulo da obra para contar aos outros (ao ar livre), utilizando imagens sequenciais dos fatos. Os narradores podem vestir-se conforme o estilo da época e pode-se encenar alguns personagens;
5. Leitura musical: cada grupo fica responsável por um capítulo e escolhe uma música que combine com o trecho a ser lido. Durante a leitura podem ser feitas pausas para ouvir a música, que ficará de fundo para os narradores.
6. Brincar com personagens:
  • Imaginar como são, desenhá-los, descrevê-los;
  • Procurar fotos dos personagens na internet e montar um mural. Depois ler em voz alta algumas falas para ver se os alunos descobrem de que personagem são;
  • “Quem é quem?” com os personagens do mural. Dividir a sala em dois grupos pode ser divertido aqui.
  • Desfile de modelos: entregamos a foto de um personagem e os alunos devem descrevê-lo utilizando comentários como se fosse um desfile de moda;
7. Escolher um capítulo e adaptá-lo para linguagem teatral.
Enfim, muitas outras podem ser pensadas.
Para terminar, o que quero dizer com “relações internas e externas”?
Chamo de relações internas aquelas feitas entre a literatura e a própria literatura. Se um livro faz menção a outro, comentar sobre esse outro. Se um autor tem alguma relação com outro (Luis Fernando Veríssimo com Érico Veríssimo, por exemplo), comentar sobre essa relação, estabelecer diferenças, destacar influências, tornar a questão humana, não só objeto de estudo.
Chamo de relações externas aquelas estabelecidas entre a literatura e outras áreas do conhecimento. Se falamos de Dom Quixote, podemos fazer uma atividade de procurar em um mapa onde fica o “Canal da Mancha” — uma relação entre literatura e geografia. Se lemos Cíntia Moscovich e seus personagens judeus, podemos explicar um pouco sobre esse povo e as atrocidades que viveram na Segunda Guerra — uma relação entre literatura e história. Se lemos Jane Austen e suas heroínas perspicazes que recusam-se a um casamento arranjado, podemos comentar esse tipo de situação que ocorria até fins do século XIX — uma relação entre literatura, história, sociologia e antropologia. E assim por diante.
Enfim, essas são algumas ideias que acredito serem eficazes para estimular o gosto pela leitura. Sei que cada contexto exige posturas diferentes por parte do professor, mas espero que você possa aplicar ao menos algumas dessas sugestões com seus alunos.
Fonte: http://www.lendo.org/despertar-gosto-leitura-literatura-dicas-para-professores/





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